sexta-feira, 5 de junho de 2009



Os meus pais nasceram no Ninho do Açor, uma aldeia do concelho de Castelo Branco.
A vida nesta aldeia, nos anos 60/70, era difícil. A maioria das pessoas trabalhava e vivia da agricultura. As mulheres iam para o campo trabalhar de sol a sol, a apanhar o “Quinto” (uma quinta parte dos produtos agrícolas que colhiam era para os trabalhadores, as outras quatro partes eram para os patrões) e levavam os filhos com elas, enquanto os homens faziam os trabalhos mais pesados e tratavam do gado. Nessa altura, muitos jovens foram para a Guerra no Ultramar.
A minha bisavó ia trabalhar para o campo e levava os 5 filhos com ela. O meu avô, como era o mais velho, tinha que tomar conta dos irmãos, não tendo tempo para brincar. Então, ele beliscava o irmão mais novo para ele chorar e a mãe, pensando que ele tinha fome, ia dar-lhe de mamar e assim o meu avô ficava com um pouco de tempo para brincar.
No tempo da escola e antes de ir para lá, tinha que ir buscar um molho de mato para a cama dos animais e lenha para a lareira. Quando saía da escola, como não havia água canalizada, ia buscar um cântaro de água à fonte, para casa e também para o senhor professor, porque este e o padre eram as pessoas mais importantes da aldeia. À tarde, ia para o campo e só à noite fazia os trabalhos da escola, à luz da candeia a petróleo.
Os meus avós paternos também trabalhavam na agricultura. O meu avô, como era também o filho mais velho, tinha que tomar conta dos irmãos e ajudava a sustentar a família. Só ia à escola quando o pai dele deixava, quando havia pouco trabalho no campo. O meu bisavô era capataz do visconde e andava a cavalo a guardar as pessoas que andavam no “Quinto”.
Naquela época, os brinquedos eram de madeira e pano. As bolas de futebol eram feitas de farrapos e, tanto o meu avô materno como os amigos jogavam descalços, para não estragar as alpragatas, assim se chamava o calçado que usavam, era parecido a umas sandálias. Também jogavam ao botão: arrancavam os botões da camisa para jogar, fingindo depois que os tinham perdido. Jogavam ao pião e ao berlinde, com bolotas que apanhavam no campo ou bugalhas que caíam dos carvalhos.
A alimentação era pobre, comiam o que ganhavam no campo a trabalhar. De manhã, ao pequeno-almoço, comiam logo um prato de sopa ou feijão-frade, para aguentarem o dia de trabalho. O peixeiro passava uma vez por semana e, quando se comprava peixe, era uma sardinha para três. Carne só aos domingos e festas. Esperavam ansiosamente pelo Natal e festas, para comerem filhós e bolos. O leite era das ovelhas e cabras.
Quando estavam doentes, tinham de ir ao médico a S. Vicente da Beira, que é uma aldeia a alguns quilómetros de distância.
O meu pai fazia os trabalhos à luz da candeia, pois ainda não havia luz eléctrica.
Na aldeia, só havia uma taberna, onde os homens passavam o serão.

Nuno Marcelino Nº: 16 Tª: D